A noite envolvia a Avenida Paulista em um brilho frenético de luzes e movimento. Do alto do edifício espelhado, Isabelle observava a rua lá embaixo, os farois criando um fluxo contínuo de vida, enquanto o silêncio do escritório vazio a pressionava. O ar parecia mais pesado depois de horas de concentração no projeto, e ela guardava seus papeis com movimentos lentos, como se estivesse exaurindo as últimas gotas de energia.
Vitor estava encostado na mesa ao lado, já com a mochila pendurada em
um ombro, observando-a. Seu rosto carregava o cansaço de um dia longo, mas também algo que ele não conseguia nomear, uma inquietação sutil que parecia se tornar mais presente nas últimas semanas.
— Hoje o escritório venceu a gente, hein? — ele comentou, a voz carregada de exaustão e humor.
Isabelle respondeu com um sorriso breve, mas sincero.
— Com certeza. Mas é sexta, o que já é alguma coisa.
O som de seus passos ecoavam no chão enquanto eles caminhavam até o elevador. Conversaram sobre o fim de semana, mas o diálogo parecia mais mecânico, como se ambos evitassem um tema que não ousavam nomear há semanas. Isabelle, por um momento, observou Vitor apertar o botão do elevador, notando os detalhes em que nunca havia prestado atenção antes: a maneira como ele franzia levemente a testa, como se estivesse sempre refletindo sobre algo importante, ou a descontração que ele exibia, mesmo visivelmente cansado.
O elevador os levou até o térreo, e, ao saírem, o caos lá fora os atingiu. Uma manifestação se formava bem em frente ao prédio. Gritos, faixas e um mar de pessoas bloqueavam a rua, enquanto o trânsito já começava a se acumular.
— Isso vai complicar as coisas. — Isabelle cruzou os braços, avaliando a cena.
Vitor suspirou, observando a confusão com uma expressão resignada. Ele estava exausto, a cabeça ainda cheia de números e prazos, e a ideia de ficar preso ali não o agradava nem um pouco.
— Acho que pegar meu carro está fora de questão.
Isabelle franziu o cenho, pensativa, antes de propor:
— Eu moro aqui perto. A gente pode ir para o meu apartamento, pedir uma pizza e esperar a confusão passar. Melhor do que ficar aqui parado.
Vitor hesitou. O convite parecia tão natural quanto arriscado. Eles sempre foram amigos, dividindo confidências e risadas, mas ultimamente algo mais sutil e inquietante parecia espreitar entre eles. Ele olhou para ela, tentando decifrar o que passava por sua cabeça.
— Tá bom, você venceu. — Ele cedeu, com um sorriso que misturava cansaço e uma ponta de nervosismo. — Só espero que a pizza seja boa.
O caminho até o apartamento foi marcado por conversas espaçadas. Isabelle falava sobre o trabalho, sobre o curso de fotografia que queria fazer, mas Vitor percebia que a energia dela estava diferente. Ela parecia distante, como se o cansaço tivesse roubado parte de sua vitalidade usual. Ele, por outro lado, lutava contra os próprios pensamentos. A proximidade dela, os gestos descontraídos, até mesmo o som da risada — tudo parecia mais significativo naquela noite.
Ao chegarem, Isabelle abriu a porta e fez um gesto para que ele entrasse.
— Bem-vindo ao meu refúgio. Fique à vontade. Vou pedir a pizza, e você pode escolher um vinho ali na adega.
Vitor entrou, sentindo-se estranhamente deslocado. O apartamento refletia Isabelle de uma maneira que ele não havia previsto. Era organizado, mas não rígido. Um sofá cinza com almofadas coloridas, uma estante cheia de livros e pequenos objetos que pareciam contar histórias. Ele notou uma pilha de livros no canto, alguns com marcadores coloridos saindo pelas bordas. Aquela pequena desordem parecia contradizer a meticulosidade que ela exibia no trabalho.
Ele pegou uma garrafa de vinho tinto e a examinou, tentando afastar os pensamentos que começavam a se formar. Isabelle voltou com um sorriso casual e duas taças.
— Boa escolha. — Ela disse, pegando a garrafa de suas mãos e abrindo-a com destreza.
Ela se sentou no sofá e tirou os sapatos, suspirando ao massagear os próprios pés. O gesto era tão casual que Vitor sentiu um desconforto inesperado. Era um tipo de intimidade que ele não sabia como lidar.
— Bem mais confortável assim. — Ela comentou, olhando para ele de maneira descontraída.
Vitor tomou um gole do vinho, tentando se concentrar no sabor, mas o silêncio que se instalou era quase opressivo. Ele olhou para ela de relance, e por um momento, algo nos olhos dela o fez sentir que estavam em um território novo, desconhecido.
— Isabelle... — Ele começou, mas as palavras morreram em sua boca. Ele não sabia o que dizer, nem o que queria dizer.
Ela inclinou a cabeça, estudando-o com um sorriso quase enigmático.
— Relaxa, Vitor. — Mas sua voz carregava um tom que contradizia as palavras.
O silêncio que se seguiu era diferente. Não era desconfortável, mas carregado, como se algo estivesse se formando no espaço entre eles, algo que ambos sentiam, mas nenhum estava disposto a admitir.
— Isabelle... — Ele começou novamente, mas a hesitação travou suas palavras. Havia algo no jeito como ela o olhava, uma intensidade tranquila que parecia desmontar qualquer argumento que ele pudesse formular.
Ela apoiou a cabeça no encosto do sofá, observando-o com olhos que pareciam ver além da superfície.
— Vitor, você está tenso. — A voz dela era suave, quase provocativa, mas sem perder a familiaridade que ele tanto prezava.
Ele riu, um som curto e nervoso, tentando aliviar o peso da atmosfera que parecia se acumular ao redor deles.
— Acho que é o efeito de uma semana puxada... e talvez desse vinho. — Ele ergueu a taça, tentando adotar um tom descontraído, mas o olhar dela o desarmava.
Isabelle não respondeu imediatamente. Ela tomou um gole do vinho e olhou para a janela, onde as luzes da cidade piscavam como estrelas inquietas. Quando voltou a encará-lo, havia algo em sua expressão que Vitor não conseguiu interpretar.
— Sabe, eu sempre gostei disso... — ela disse, gesticulando para o ambiente ao redor. — Conversar sem pressa, sem distrações. Parece raro, não acha?
Vitor assentiu, mas sentia um impulso diferente. Ele estava acostumado com a energia dela no escritório, com o jeito pragmático e objetivo que ela exibia. Ali, porém, Isabelle parecia diferente: mais vulnerável, mais real.
— Sim... raro e um pouco desconcertante. — Ele admitiu, desviando o olhar para a taça em sua mão.
Isabelle sorriu de leve, como se ele tivesse acabado de confirmar algo que ela já sabia. Ela esticou a perna, os pés descalços tocando de leve o tapete.
— E o que exatamente te desconcerta, Vitor?
Ele hesitou, buscando uma resposta que não fosse tão honesta quanto seus pensamentos naquele momento.
— Acho que é o silêncio. Não estamos acostumados com ele, né?
Ela inclinou a cabeça, como se ponderasse a resposta.
— Talvez. Mas acho que o silêncio também diz muito.
Por um instante, nenhum dos dois falou. O som distante da manifestação na rua parecia um eco, algo que não pertencia àquele momento. Vitor percebeu que sua mão apertava a taça com força demais e tentou relaxar.
— Tá, você venceu. — Ele brincou, tentando aliviar o clima. — O que o silêncio está dizendo agora?
Isabelle o encarou, o sorriso em seus lábios suavizando a tensão no ar, mas os olhos permaneciam sérios.
— Acho que ele está dizendo que estamos evitando alguma coisa.
A resposta dela o atingiu como um soco, e ele sentiu o coração acelerar. Tentou rir, mas o som saiu mais fraco do que pretendia.
— Tipo o quê?
Ela se aproximou um pouco, apoiando o cotovelo no encosto do sofá, os olhos fixos nos dele.
— Não sei... talvez você devesse me dizer.
Vitor sentiu o ar sair dos pulmões, e por um momento, ele quis fugir, quebrar aquela tensão antes que ela o consumisse. Mas algo nele não queria. Algo nele desejava ficar exatamente onde estava.
Ele tomou mais um gole de vinho, o calor do álcool tornando as bordas do momento mais difusas, mas não menos intensas. Isabelle também bebeu, os olhos ainda fixos nele, como se o desafiando a dar o próximo passo.
— Isabelle, você sabe que... — Ele começou, mas ela o interrompeu, colocando a taça sobre a mesa de centro com um movimento deliberado.
— Vitor, para. — A voz dela era firme, mas não dura. Ela se inclinou mais perto, a pouca distância entre eles, agora quase inexistente. — Você pensa demais.
O cheiro do vinho misturava-se ao perfume dela, e Vitor sentiu a respiração acelerar. Ele não sabia se era o álcool ou o peso do momento, mas algo o empurrava para frente.
Os dois se encararam por um momento.
A tensão que antes estava apenas no ar agora era palpável, como uma corda esticada, pronta para se romper. Vitor se inclinou em direção a ela, e sem pensar, Isabelle foi até ele. O beijo aconteceu de forma quase inevitável. Foi lento, hesitante no início, como se ambos ainda testassem os limites do que estavam dispostos a permitir. Mas o beijo logo se tornou mais firme, mais certo, como se toda a tensão acumulada tivesse finalmente encontrado uma válvula de escape.
O toque de Vitor em seu rosto era suave, mas seu corpo estava firme, como se tentasse conter a intensidade de um desejo que crescia a cada segundo. Isabelle fechou os olhos, entregando-se ao beijo, a sensação de estar ali, naquele espaço pequeno e acolhedor, com ele, era algo que ela não sabia como descrever. Algo em sua mente dizia para parar, para dar um passo atrás, mas o desejo que queimava dentro dela era mais forte. Ela se afastou brevemente, olhando nos olhos dele, tentando entender o que estava acontecendo, mas as palavras simplesmente não surgiram.
Isabelle se levantou do sofá, as pernas ligeiramente trêmulas, e caminhou em direção ao quarto. Ao fechar a porta atrás de si, encostou-se nela por um momento, tentando recuperar o fôlego. A sensação do beijo ainda queimava em seus lábios, e sua mente estava um turbilhão.
O reflexo no espelho não ajudava. Ela viu a si mesma com as bochechas coradas e os olhos brilhando de algo que ela não sabia se era adrenalina ou puro desejo. Seus dedos deslizaram automaticamente até a barra da camiseta que usava, sentindo-se quente demais, como se a roupa pesasse mais do que deveria.
Abriu o guarda-roupa, vasculhando por algo que a deixasse mais à vontade. Por fim, pegou um shorts de algodão curto e uma blusinha de alça. Quando vestiu a peça, percebeu que o tecido leve deixava sua silhueta evidente, o que a fez hesitar por um segundo. O sutiã que usava parecia desnecessário, desconfortável até, então ela o tirou com um movimento rápido, jogando-o na cama. Ao se olhar no espelho novamente, mordeu o lábio, sentindo uma mistura de ousadia e nervosismo.
"Você está tentando ficar confortável ou está tentando provocá-lo?", uma voz interna sussurrou. Ela balançou a cabeça, como se pudesse espantar os pensamentos, e respirou fundo antes de voltar à sala.
Vitor estava próximo à janela, observando as luzes da cidade. A postura dele era tensa, as mãos enfiadas nos bolsos da calça, como se estivesse tentando se conter. Quando ouviu seus passos, virou-se, e por um instante, o olhar dele desceu de forma involuntária pelo corpo de Isabelle antes de voltar aos olhos dela.
Ela sentiu o calor subir pelo pescoço, mas não desviou o olhar. Havia algo diferente no ar agora, algo que tornava cada movimento carregado de significado.
— Achei que você tinha mudado de ideia. — Ele comentou, tentando soar casual, mas a rouquidão na voz o traiu.
— Pensei nisso... mas acho que já é tarde demais. — Ela respondeu, parando a poucos passos dele.
O sorriso que ele tentou esboçar desapareceu assim que ela se aproximou mais. Vitor deu um passo em sua direção, as mãos deslizando para a cintura dela. O tecido leve da blusa fazia o calor do toque dele ainda mais evidente, e Isabelle prendeu a respiração ao sentir os dedos firmes sobre sua pele.
— Você está linda. — Ele sussurrou, o olhar intenso enquanto uma das mãos subia devagar pelas costas dela, parando entre os ombros.
— Não diga isso. — Isabelle murmurou, mas a voz soou fraca, como se ela mesma não acreditasse.
— Por quê? Porque é verdade? — Ele retrucou, aproximando o rosto.
Antes que ela pudesse responder, os lábios dele encontraram os dela novamente. Esse beijo era diferente, mais lento, mais deliberado, como se Vitor estivesse explorando cada segundo. As mãos dele deslizaram até as alças da blusa, e Isabelle sentiu o corpo inteiro arrepiar quando ele traçou o caminho até seu pescoço com os dedos.
Ela não recuou. Em vez disso, suas mãos subiram pelo peito dele, sentindo a firmeza sob a camisa. Quando os dedos alcançaram os primeiros botões, ela hesitou por um momento, mas o olhar de Vitor a encorajou a continuar.
A tensão que preenchia o ambiente parecia vibrar no ar, tornando cada toque, cada movimento, carregado de uma intensidade quase insuportável. As luzes da cidade brilhavam lá fora, mas dentro daquele apartamento, o mundo parecia distante, como se só existissem os dois.
A linha entre o certo e o errado, entre o que eles queriam e o que deveriam querer, desapareceu. Eles estavam ali, juntos, sem mais palavras, apenas o desejo tomando conta.
O apartamento de Isabelle, antes um refúgio tranquilo, agora parecia ser o cenário de algo que, embora inesperado, parecia certo para os dois. Eles estavam à mercê do momento, e as consequências, se é que existiam, poderiam esperar.
Enquanto a mão de Vitor deslizava pelos cabelos de Isabelle, puxando-os com uma mistura de firmeza e cuidado, ela se entregava ao momento, sentindo o coração pulsar descontrolado no peito. A adrenalina do proibido queimava em suas veias, incendiando cada centímetro de seu corpo. As mãos dela exploravam as costas dele, os dedos traçando linhas invisíveis até cravarem as unhas na pele quente, arrancando dele um suspiro gutural. Isabelle sentiu o corpo de Vitor reagir, os músculos tensionando sob seu toque, e provocou ainda mais, esfregando-se nele com uma ousadia quase inocente.
Vitor respondeu apertando a curva de sua bunda com um vigor que arrancou um suspiro entrecortado dela. Isabelle aproveitou a deixa, inclinando-se para beijar o pescoço dele, deslizando os lábios pela pele macia até alcançar o ouvido, onde sussurrou, a voz tingida de malícia: — Eu nem imaginava o quanto desejava isso.
Ele não respondeu. Não com palavras. Apenas segurou a mão dela, os olhos carregados de promessas, e a conduziu até o terraço. O ar noturno os envolveu, trazendo um frescor que contrastava com o calor que irradiava entre eles. — Essa é a maior loucura que já fiz. — Vitor finalmente murmurou, a voz baixa, quase rouca.
Isabelle soltou uma risada suave, balançando a cabeça como quem desdenha do risco. — Loucura nunca foi tão gostosa assim...
Vitor a encarou, os olhos denunciando algo que parecia hesitar em dizer, mas Isabelle não deu tempo. Puxando-o pela gola da camisa, ela sussurrou com um sorriso travesso: — Relaxa...
Seus dedos deslizaram com habilidade, abrindo o zíper da calça dele, e ela o tocou com uma intimidade crescente, sentindo-o pulsar sob sua mão. Vitor arquejou, a cabeça tombando levemente para trás. Antes que ele pudesse articular qualquer palavra, Isabelle se ajoelhou diante dele, a língua desenhando um caminho lento e provocante pela ponta de seu membro. Ele gemeu baixo, a mão deslizando para o cabelo dela, guiando seus movimentos com uma intensidade quase reverente.
— Quero sentir você também. — A voz de Vitor era um sussurro grave, carregado de desejo.
Isabelle ergueu os olhos, o olhar brincando com o dele. — Vai ter tempo pra isso... — murmurou, levando a mão dele até o calor entre suas pernas. — Agora, só me toca.
O toque de Vitor foi como um choque, e Isabelle não conseguiu conter o gemido que escapou de seus lábios. A resposta dele veio sem hesitação. Levantando-a nos braços com uma força segura, Vitor a pressionou contra si, alinhando seus corpos com uma precisão que parecia quase natural. Quando ele finalmente a penetrou, um arrepio percorreu o corpo dela, o prazer crescendo em ondas que se espalhavam com cada movimento.
Ele a segurava firmemente pela cintura, ajudando-a a encontrar um ritmo que parecia instintivo, quase primal. Isabelle, perdida no prazer, levantou a blusa, oferecendo os seios para Vitor, que os tomou com voracidade, os lábios quentes e úmidos contra sua pele sensível.
— Me faça gozar... — ela pediu, a voz entrecortada, os olhos fechados enquanto o prazer subia como uma maré avassaladora.
Vitor acelerou os movimentos, cada investida trazendo-os mais perto do ápice. Ao redor deles, as luzes da cidade brilhavam como testemunhas silenciosas, mas tudo parecia distante. Ali, no terraço, o mundo se resumia ao calor, aos gemidos abafados e à explosão de sensações que os consumia.
Ofegantes e rindo baixinho, Isabelle e Vitor se afastaram por um instante, ainda com os corpos colados. Ele pousou a testa na dela, o sorriso brincando nos lábios enquanto tentava recuperar o fôlego. — Você vai me matar desse jeito.
— Que exagero. — Ela sorriu, os dedos desenhando círculos preguiçosos no peito dele. — Acho que você tá sobrevivendo muito bem.
Vitor riu, um som rouco e caloroso que a fez sorrir ainda mais. Ele a colocou no chão suavemente e segurou seu rosto com ambas as mãos, plantando um beijo leve na ponta do nariz dela. — Vem, antes que a gente acabe quebrando alguma coisa aqui.
— Tipo a gente mesmo? — Isabelle brincou, levantando uma sobrancelha enquanto o seguia para dentro.
Ele puxou a mão dela, conduzindo-a ao banheiro. O som da água logo preencheu o ambiente, e o vapor começou a embaçar os espelhos enquanto eles entravam no box juntos. Sob o chuveiro, a tensão foi substituída por algo mais leve e íntimo. Vitor ensaboou os ombros dela com delicadeza, os dedos massageando a pele enquanto ela suspirava satisfeita.
— Acho que nunca tomei um banho tão bom assim. — Isabelle fechou os olhos, deixando que ele cuidasse dela por um momento.
— É porque você nunca tomou comigo antes. — Ele piscou, deslizando a espuma pelos braços dela.
Ela riu, pegando o sabonete da mão dele e se virando para devolver o gesto. — Modesto você, hein?
— Só a verdade. — Ele ergueu os braços em rendição, mas logo fechou os olhos ao sentir os dedos dela deslizando por suas costas.
Entre risadas, pequenos beijos roubados e brincadeiras com a espuma, o banho virou uma mistura de carinho e descontração. Quando saíram, Isabelle enrolou o cabelo em uma toalha enquanto Vitor tentava desesperadamente secar o espelho para olhar o próprio reflexo.
— Vai mesmo tentar arrumar esse cabelo agora? — ela provocou, apontando para os fios desgrenhados dele.
— Claro, né? Preciso manter o charme.
— Que charme? — Isabelle deu uma risadinha e fugiu quando ele tentou jogá-la de volta no box.
Com os corpos limpos e renovados, eles se jogaram no sofá com uma caixa de pizza aberta entre eles e uma garrafa de vinho ao lado. Isabelle segurava uma taça na mão, os pés apoiados no colo de Vitor, enquanto mordia uma fatia com gosto.
— Tá vendo? — ela disse com a boca cheia. — Isso aqui é vida.
— Sexo e pizza? — Vitor ergueu uma sobrancelha, segurando a risada.
— E vinho. Não esqueça do vinho.
Eles brindaram com as taças e riram, as conversas fluindo com naturalidade enquanto dividiam a comida. Vitor contou histórias engraçadas do trabalho, e Isabelle quase se engasgou de tanto rir. Em algum momento, ela acabou derramando vinho na própria blusa e culpando Vitor, que apenas riu ainda mais.
Com a garrafa vazia e os corpos novamente aquecidos, a intimidade voltou a chamá-los. Vitor puxou Isabelle para o colo no sofá, os dedos traçando caminhos preguiçosos pela pele dela enquanto a boca encontrava a dela com urgência. Desta vez, os movimentos foram mais lentos, mais exploratórios, como se cada toque fosse um redescobrimento.
No sofá estreito, eles se entregaram novamente, os corpos se movendo em perfeita sincronia. O som da respiração ofegante preenchia o espaço enquanto o calor os consumia mais uma vez. Quando finalmente chegaram ao ápice, Isabelle deixou o corpo cair contra o dele, o rosto enterrado no pescoço de Vitor.
— Você tá me estragando pra sempre, sabia? — ela murmurou, a voz sonolenta.
Ele beijou o topo da cabeça dela, rindo baixinho. — Acho que isso é bom.
Pouco depois, ambos adormeceram no sofá, os corpos entrelaçados. A luz da madrugada começou a iluminar o ambiente, e os dois só acordaram quase ao amanhecer, os raios do sol tocando suavemente seus rostos. Isabelle abriu os olhos preguiçosamente, encontrando Vitor já a observando com um sorriso.
— Bom dia, dorminhoca.
— Bom dia, destruidor de sofás. — Ela sorriu de volta, os olhos brilhando de ternura.
E, mesmo com os corpos ainda cansados, o momento parecia perfeito. Como se o mundo inteiro tivesse parado para deixá-los ali, juntos.
Vitor vestiu a camisa em silêncio, os movimentos lentos, como se quisesse prolongar cada segundo antes de sair. Isabelle estava sentada na beira do sofá, as pernas cruzadas e os cabelos bagunçados, segurando um lençol contra o corpo. O quarto ainda carregava o cheiro do momento que haviam compartilhado, mas a atmosfera já parecia diferente, mais densa, mais pesada.
— Eu deveria ir. — Vitor quebrou o silêncio, ajustando os punhos da camisa enquanto evitava o olhar dela.
— Sim, acho que sim. — Isabelle respondeu, a voz quase um sussurro. Ela não conseguia olhar diretamente para ele. Em vez disso, encarava as almofadas, como se fossem mais interessantes do que o turbilhão em sua mente.
Vitor pegou o celular na mesa e deu um suspiro antes de se virar para ela. Por um momento, ele parecia prestes a dizer algo, mas desistiu. Em vez disso, aproximou-se do sofá e inclinou-se para beijar a testa de Isabelle.
— Nos vemos segunda-feira. — Ele murmurou, como se aquilo fosse suficiente para encapsular tudo o que sentia.
Ela assentiu, sem responder, e o acompanhou até a porta. O corredor do apartamento parecia ainda mais vazio e frio quando ele desapareceu pelo elevador, deixando Isabelle sozinha.
De volta ao quarto, Isabelle deixou o lençol cair no chão e caminhou até a janela, abraçando a si mesma. A cidade parecia tão indiferente à confusão que tomava conta dela. As luzes piscavam, os carros passavam, e lá embaixo, provavelmente, Breno estava a caminho de casa, acreditando que ela havia ficado trabalhando até tarde.
O pensamento fez seu estômago revirar. Ela se jogou no sofá da sala, cobrindo o rosto com as mãos. "O que você fez?", sua mente gritava, mas não havia resposta.
Por um lado, ela se sentia viva como há muito tempo não se sentia. Por outro, a culpa começava a apertar o peito, lenta, como um nó que não podia ser desfeito.
Vitor, enquanto isso, dirigia pelas ruas ainda movimentadas, o silêncio do carro quase insuportável. Ele não ligou o rádio, nem sequer abriu as janelas. Apenas dirigia, os dedos apertando o volante com mais força do que o necessário.
Juliana estaria em casa, provavelmente já dormindo. Ele imaginou o sorriso dela na manhã seguinte, os cabelos bagunçados e o bom humor matinal. A ideia o fez engolir seco.
Quando chegou ao prédio, subiu as escadas como um autômato. Cada passo parecia pesar toneladas, e quando finalmente abriu a porta do apartamento, viu Juliana encolhida no sofá, com um cobertor sobre as pernas e o laptop no colo.
— Você demorou. — Ela disse, sorrindo ao vê-lo. — Eu pedi comida. Achei que você ia chegar morrendo de fome.
Vitor congelou por um momento antes de forçar um sorriso.
— É, o trabalho tomou mais tempo do que eu esperava.
Ele se sentou ao lado dela, tentando parecer casual, mas a sensação de que ela podia sentir algo errado não o deixava em paz. Enquanto Juliana voltava a atenção para o filme na TV, Vitor olhou para o teto, tentando ignorar o peso esmagador da culpa.
Naquela noite, Isabelle e Vitor não dormiram. Ela, no apartamento vazio, olhando para o teto, e ele, ao lado de Juliana, com a mente a quilômetros de distância.
Apartamento de Isabelle, 2013.
O eco dos passos de Vitor desaparecia pelo corredor enquanto Isabelle permanecia imóvel na porta de seu apartamento. Sua mente girava, um redemoinho de sensações conflitantes: culpa, desejo e um vazio que parecia imenso e insuportável. A noite passada havia mudado tudo.
Por dias, Isabelle evitou olhar diretamente para Breno. Ela se afogava em desculpas, justificando as longas horas no trabalho, o cansaço crescente, mas a realidade era uma ferida aberta. Cada vez que fechava os olhos, o toque de Vitor parecia pulsar em sua pele, como uma marca indelével. A lembrança do beijo roubado, do calor dos corpos entrelaçados, do que haviam permitido acontecer — tudo parecia gravado nela, um segredo que ela não sabia como esconder.
Do outro lado, Vitor se esforçava para seguir a rotina. Mas o perfume de Isabelle, que parecia flutuar no ar, o perseguia onde quer que fosse, nos corredores do escritório, nas camisas de cama vazias. Juliana, sua namorada, notava o silêncio dele, os olhares perdidos, e começava a desconfiar, mas ele ainda não sabia o que dizer a ela. As palavras pareciam insuficientes diante daquilo que sentia, ou talvez, do que ele temia não ser mais capaz de controlar.
Os meses seguintes foram uma dança cuidadosa. Isabelle e Vitor continuaram a trabalhar juntos, mas a proximidade que antes parecia natural agora era carregada de uma tensão palpável. Eles evitavam ficar sozinhos, como se a simples presença do outro pudesse incitar algo incontrolável. O que haviam começado não poderia ser desfeito, mas também não podia ser consumado. A linha entre o desejo e o arrependimento parecia fina demais.
E então, Vitor pediu transferência. Uma promoção o levaria para outra cidade, longe de tudo o que havia acontecido. Isabelle, por sua vez, começou a se dedicar ainda mais ao seu relacionamento, como se estivesse tentando afogar algo que jamais conseguiria esquecer. Quando Breno a pediu em casamento, ela aceitou, na esperança de que o amor por seu namorado e futuro marido, e a vida que construiriam juntos apagassem o que ela já havia perdido.
A distância física separou-os, mas a memória daquela sexta-feira nunca se apagou completamente. Eventualmente, mensagens esporádicas começaram a surgir. Um “Feliz aniversário” aqui, um “Parabéns pela promoção” ali. Pequenos gestos de cordialidade que disfarçavam uma saudade persistente, como se entre as palavras educadas, ainda houvesse algo não dito.
Durante esses doze anos, Isabelle construiu uma vida que parecia perfeita aos olhos dos outros. O nascimento do filho Lucas, trouxe novas alegrias e desafios, e ela se entregou ao papel de esposa e mãe, acreditando que esse seria o lugar que a faria sentir-se completa. Breno era um bom homem, paciente e amoroso, mas algo dentro dela dizia que ele nunca seria capaz de tocar nas partes mais profundas de sua alma.
Vitor também seguiu em frente. Casou-se com uma mulher encantadora, Paula, que conheceu meses depois de seu término com Juliana, construiu uma carreira sólida, mas, nas noites mais silenciosas, seus pensamentos vagavam para Isabelle. Ele não mencionava isso em voz alta, nem para si mesmo. Mas, às vezes, uma música ou o cheiro de um vinho o transportava de volta àquele apartamento iluminado pelas luzes da cidade, onde tudo parecia possível.
Em algum lugar de São Paulo. 12 anos depois.
Quando Isabelle recebeu a mensagem de Vitor, o coração disparou. “Estarei na cidade na próxima semana. Que tal um almoço?”
Ela hesitou. Foram dias pensando na resposta, reescrevendo o texto várias vezes antes de finalmente digitar: “Claro, me avise o dia e o horário.”
…
O restaurante era elegante, com uma iluminação quente que tornava o ambiente acolhedor. Isabelle chegou primeiro, as mãos inquietas enquanto deslizava os dedos pelo cardápio sem realmente lê-lo. Quando Vítor entrou, seus olhos se encontraram, e o tempo pareceu parar por um instante.
Havia doze anos entre aquele olhar e o último que haviam trocado. Doze anos que, naquele momento, pareciam desaparecer como fumaça ao vento.
Ele sorriu, um sorriso hesitante, mas genuíno, enquanto se aproximava. Isabelle levantou-se para cumprimentá-lo, e o abraço que trocaram foi breve, mas carregado de algo não dito.
O diálogo começou com a típica troca de novidades. Isabelle contou sobre Breno e o filho deles, enquanto Vitor falou de sua esposa e da mudança para a nova cidade. Mas havia uma tensão no ar, um subtexto em cada pausa, em cada olhar que durava um segundo a mais do que o necessário.
— Você está diferente — disse ele, finalmente, pousando a taça de vinho na mesa.
— É o tempo. Ele faz isso com a gente. — Isabelle sorriu, mas o sorriso não alcançou os olhos.
— Não, não é isso. É como você fala, Isa... como se estivesse tentando esconder algo.
Ela riu nervosa, mexendo no guardanapo. — Olha quem fala. Você também parece... contido.
O silêncio que se seguiu não era desconfortável, mas pesado, cheio de possibilidades.
Quando o almoço terminou, ambos hesitaram ao sair do restaurante. Na calçada, Isabelle olhou para ele com um misto de ansiedade e expectativa.
— Isabelle, eu... — Vitor começou, mas parou. O que ele poderia dizer? Que sentiu saudades? Que havia dias em que se pegava pensando nela?
Ela balançou a cabeça, interrompendo-o. — Não, Vitor. Não agora. Não aqui.
Mas o "não" dela soou como um "talvez", e o brilho em seus lindos olhos azuis indicava que o desejo adormecido havia despertado.
Isabelle cruzou os braços, tentando organizar os pensamentos enquanto o vento balançava levemente seus cabelos. Vitor a observava, como se buscasse algo no rosto dela, uma permissão, uma pista para saber o que deveria fazer.
— Isabelle... — Ele tentou novamente, mas o tom hesitante o fez parar de novo.
Ela suspirou, os olhos fixos em um ponto qualquer da rua à frente, evitando o olhar dele. — Não adianta começar uma conversa que não sabemos como terminar, Vitor.
— Talvez seja isso que precisamos descobrir. — A resposta saiu mais firme do que ele pretendia, mas a intensidade na voz não deixou dúvidas sobre a seriedade de suas palavras.
Isabelle finalmente o encarou, o olhar carregado de uma mistura de curiosidade, desejo e medo. Por um instante, eles ficaram em silêncio, como se o mundo ao redor tivesse parado. As pessoas passavam apressadas, mas nada disso parecia importar.
— O que você quer de mim? — Ela perguntou, a voz baixa, quase um sussurro.
— Quero entender o que estamos fazendo aqui. — Ele deu um passo mais perto, reduzindo a distância entre eles. — Quero saber por que você aceitou esse almoço, por que me olha assim, por que...
— Para, Vitor. — Isabelle o interrompeu, mas não recuou. — Não me faça dizer coisas que não devo.
Ele passou a mão pelos cabelos, frustrado. — Talvez seja isso. Talvez a gente devesse parar de evitar.
Isabelle sentiu o coração acelerar. Havia algo no jeito que ele falava, algo que despertava nela uma mistura de esperança, medo e desejo. Ela desviou o olhar novamente, mordendo o lábio inferior, enquanto o silêncio entre eles se estendia como um abismo.
Finalmente, ela soltou o ar preso nos pulmões e olhou para ele com uma expressão decidida. — Vitor, tenho medo dessa conversa. Não sei se depois dela haverá volta.
Ele deu de ombros, um sorriso amargo brincando em seus lábios. — Talvez a gente já tenha ido longe demais.
As palavras pairaram no ar, pesadas e inevitáveis. Isabelle sentiu o chão se mover sob seus pés, como se estivesse prestes a dar um passo no vazio.
Ela balançou a cabeça lentamente, mais para si mesma do que para ele. — Tudo bem. Mas não aqui.
Vitor assentiu, e eles começaram a caminhar, lado a lado, em direção ao que quer que viesse a seguir. A cada passo, Isabelle sentia a tensão crescer, o calor em seu rosto aumentando, a pulsação acelerada em seus ouvidos.
Quando chegaram à esquina, Vitor apontou para o café, a voz carregada de uma calma aparente que escondia a tempestade em seu interior.
— Tem um café ali. Podemos continuar a conversa?
Isabelle parou por um momento, olhando para o lugar indicado. Então, respirou fundo, tentando se preparar para o que estava por vir.
— Podemos. — E com isso, ela deu o primeiro passo para dentro do café, para dentro de algo que sabia que mudaria tudo.
Eles se sentaram em uma mesa afastada, um canto mais reservado, onde as vozes da cidade se tornavam um sussurro ao fundo. A garçonete trouxe os cardápios, mas nenhum dos dois realmente os abriu.
— É estranho, não é? — Isabelle finalmente quebrou o silêncio, brincando com a borda da xícara de café que mal havia tocado. — Depois de tanto tempo, parece que...
— Parece que nada mudou. — Vitor completou, encarando-a com intensidade.
Ela ergueu os olhos para ele, e por um momento, a máscara de casualidade caiu. Lá estava o homem que conhecia, mas também alguém novo, moldado pelos anos, pelas escolhas, pelos caminhos que os afastaram.
— Você já pensou em como teria sido? — Vitor perguntou, a voz baixa, quase um sussurro.
— Como teria sido o quê? — Isabelle sabia a resposta, mas queria ouvi-lo dizer.
Ele respirou fundo, como se precisasse reunir coragem. — Se tivéssemos feito escolhas diferentes depois daquela noite?
As palavras pairaram no ar, pesadas e cheias de significados. Isabelle sentiu o coração apertar no peito, um misto de nostalgia, culpa e desejo.
— Não sei, Vitor. — Ela desviou o olhar, mas ele segurou sua mão sobre a mesa, um toque suave, mas firme o suficiente para fazê-la encará-lo novamente. — A vida aconteceu. Fizemos o que achamos que era certo.
— E agora? — Ele perguntou, o olhar queimando com uma intensidade que fez Isabelle perder o fôlego.
Ela puxou a mão de volta, o gesto automático, como se tentasse criar uma barreira. Mas era inútil. Havia algo ali, algo que não podia ser ignorado.
O café já estava vazio quando eles finalmente decidiram ir embora. Vitor insistiu em acompanhá-la até o carro, e o caminho foi marcado por um silêncio denso. Quando chegaram, Isabelle virou-se para ele, tentando encontrar as palavras certas para encerrar aquilo antes que fosse longe demais.
— Vitor, eu não...
Mas ele a interrompeu. Com um movimento rápido, segurou seu rosto entre as mãos e a beijou. Foi um beijo cheio de urgência, como se os doze anos de distância estivessem se dissolvendo naquele instante.
Isabelle não resistiu. No fundo ela ansiava por aquilo. O sabor familiar de seus lábios, era como um redemoinho, arrastando-a para um lugar que ela jurou nunca mais visitar.
— Isso é errado — ela murmurou contra os lábios dele, mas não se afastou.
— Talvez seja. Mas nenhum de nós quer abrir mão disso. — Vitor sussurrou, encostando a testa na dela, os olhos fechados como se estivesse lutando contra os próprios demônios.
Eles não foram longe. A tensão que os envolvia tornou impossível esperar. Dentro do carro, estacionado em uma rua deserta, o mundo exterior desapareceu.
Vitor a puxou para si, os lábios explorando cada centímetro de sua pele exposta. Isabelle arfava, os dedos deslizando pelos cabelos dele, puxando-o para mais perto. Era como se o tempo tivesse retrocedido, como se todas as emoções que haviam enterrado ao longo dos anos estivessem irrompendo de uma só vez.
— Eu pensei que tinha esquecido — ela sussurrou, os olhos semicerrados enquanto ele traçava um caminho de beijos pelo pescoço dela.
— Eu nunca esqueci. — A voz dele era rouca, carregada de desejo.
As roupas se tornaram um obstáculo. Os botões da camisa dele foram arrancados com pressa, e Isabelle sentiu o calor das mãos de Vitor deslizando pela sua cintura, explorando com uma intensidade que a fez estremecer.
Ali, no espaço confinado do carro, os dois se perderam um no outro. Cada toque, cada suspiro era uma mistura de paixão e arrependimento, de desejo e culpa. O mundo parecia pequeno demais para conter o que eles sentiam, e ao mesmo tempo, naquele momento, nada mais existia além deles.
Quando tudo terminou, o silêncio voltou a reinar. Isabelle olhou pela janela, tentando processar o que havia acabado de acontecer.
O silêncio entre eles não era desconfortável. Era carregado, pesado de tudo o que havia acontecido e do que nenhum dos dois tinha coragem de dizer em voz alta. Isabelle ainda olhava pela janela, mas o reflexo no vidro mostrava o rosto de Vitor, a expressão serena, mas os olhos cheios de algo que ela reconhecia — um desejo que não havia acabado, mesmo depois de saciado.
Ela suspirou, virando-se para ele, os cabelos bagunçados caindo sobre os ombros. Seus olhos estavam calmos, mas havia uma intensidade neles que fazia Vitor prender a respiração.
— Isso muda tudo. — Ela murmurou, mas dessa vez sem medo ou arrependimento. Havia uma aceitação ali, uma entrega ao que já era inevitável.
Ele passou os dedos pelo cabelo dela, um gesto que misturava carinho e provocação. — Ou talvez não mude nada. Talvez fosse isso que a gente queria o tempo todo.
Isabelle riu baixo, o som suave preenchendo o espaço apertado do carro. — Você não vai facilitar as coisas, vai?
— Nunca fui bom nisso. — Ele deu de ombros, mas o sorriso no rosto entregava o quanto estava confortável naquele momento, mesmo que fosse perigoso.
Ela inclinou-se para ele, seus rostos separados apenas por um espaço minúsculo. — Não adianta fingir que foi só um momento, Vitor. Nós dois sabemos que isso sempre esteve aqui, esperando o momento certo para acontecer.
Ele assentiu, os olhos fixos nos dela. — Sempre esteve. E agora?
Isabelle tocou o rosto dele, o polegar deslizando pela barba que começava a aparecer. O toque era íntimo, quase casual, como se não houvesse mais barreiras entre eles.
— Agora a gente lida com isso. Não como um erro, mas como uma verdade que não dá pra ignorar.
— Você não tem medo? — Vitor perguntou, a voz baixa, mas carregada de curiosidade genuína.
— Claro que tenho. — Ela sorriu, inclinando a cabeça. — Mas é um medo que vale a pena sentir.
Vitor a puxou para perto, selando a conversa com um beijo breve, mas cheio de promessas. Quando se afastaram, ambos estavam mais serenos, como se finalmente tivessem se libertado de algo que os prendia há anos.
Vitor abriu a porta do carro, mas antes de sair, virou-se para ela. — Boa noite, Isabelle.
Ela sorriu, aquele sorriso que ele sempre reconheceria. — Boa noite, Vitor.
Ele caminhou pela calçada, sentindo o ar frio da noite e o calor que ainda vibrava em sua pele. Não havia arrependimento. Não havia dúvida. Apenas a certeza de que, mesmo que não soubessem o que viria a seguir, aquilo era exatamente o que ambos desejavam — e, finalmente, haviam admitido.